domingo, 24 de outubro de 2010

Feirante - (João Alexandre): Uma análise.





Feirante

João Alexandre

Arruma a cangalha na cacunda que a rapadura é doce mas não é mole não
E genipapo no balaio pesa,
Anda, aperta o passo pra chegar ligeiro,
Farinha boa se molhar não presta
Olha lá na curva a chuva no lagedo

Quem foi que te disse que a vida é um mar de rosas?
Rosas têm espinhos, e pedras no caminho
Daqui até a cidade é pra mais de tantas léguas
Firma o passo, segue em frente,
Que essa luta não tem trégua
Fica na beira da estrada quem o fardo não carrega
A granel felicidade não custeia o lavrador
Vamos embora que a jornada é muito longa
E não há mais tempo de chorar por mais ninguém
Lá na feira a gente compra, a gente vende,
A gente pede, até barganha aquilo que comprou
E te prometo que depois no fim de tudo na Quitanda da Esperança
Eu te compro um sonho de açucar mascavo embrulhado num papel de seda azul

Pra te consolar

Essa música do poeta João Alexandre é linda. numa análise superficial, logo percebemos que ela se trata de um compêndio de diversos ditados populares conhecidos de Norte a Sul do nosso Brasil. Ao retratar o cotidiano de uma feira, algo bem típico de nossa cultura, na qual as imagens vão se formando ao desenrolar de nossa leitura, ele, João Alexandre, nos conta uma história, que vai muito mais além.
O que é essa "feira" senão nossa vida?
Nossa vida é assim. Numa hora, rosas, Noutra espinhos e pedras. Mas é atraves desses percaussos que contruimos nossa identidade. Alguns, que pena, no meio do caminho estacionam e não acham mais forças para continuar. São consumidos por algumas barganhas.
Porém olham para trás e vê todo caminho já percorrido, e ganham forças para continuar , seguem em frente, sabendo que a jornada é longa, mas dá para suportar. E é para esses que suportam, que vão até o fim, que aparecem uma "quitanda" onde vende um sonho, não um sonho qualquer, mas um sonho de açúcar mascavo.
Quem sabe toda essa jornada entre rosas e espinhos seja o caminho, para alcançar a coroa da vida, e que essa coroa seja esse "sonho embrulhado no papel de seda azul" e a "quitanda da esperança" seja o céu onde um dia nos encontraremos.
Então mantém teu passo firme, segue em frente , por que a "quitanda" pode está bem ali...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

RECORTES

Ultimamente me sinto assim. Não caibo dentro de mim.
Certo que nunca consegui me entregar a desorienteção. Mas agora está demais.
Culpo aquele sorriso no canto dos lábios dos amantes.
Culpo você. Sim você que tenta me culpar.
Que facilidade é essa?
E a mim que dificuldade é essa?
Não sei o que pensar.
Tá tudo desorientado.
Por quê você me deixa e some?
A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca.
Não tente me provocar.
Não tente me encurralar, por que eu grito.
Não dá mais. Me permita ir. Voar... Voar... Voar na retidão mais reta da minha reta.
O meu peito pesa como um chumbo, dilacerando a garganta.
Minha garganta estranha, quando não te vejo me vem um desejo louco de gritar.
Porque há o direito ao grito.
Então eu grito:
Somos serra e litoral. Nosso final é simples: tchau!