domingo, 10 de março de 2013

Inocência transviada


Anteontem, depois da goleada no campinho, ele estava feliz, gargalhando com os colegas de rua que chutavam a lata e se escondiam. Subiu no pé de manga e ninguém o achava, assim ganhou tempo pra saborear aquela amarela.  O filho de Maria, que o chamou aos berros, desceu em disparate por que sabia que se não o fizesse marcas de cinto apareceria em seu corpo.

Ontem, carro, fogo, fumaça e silêncio.

Hoje, olhos lacrimejados:

“Menino toca fogo em um carro, com um homem dentro, após discussão.  
Para se vingar, menino de 10 anos toca fogo em um carro com o vizinho dentro, após discussão. Ele armou-se de gasolina e fósforo e cometeu o crime. Segundo testemunhas, ele passou o dia dizendo iria a desforra. Na manhã desse domingo, a polícia o encontrou na rua de sua casa, com a camisa toda manchada de amarelo. O delegado Roberto Stuart, da delegacia de homicídio, disse que recebeu informações, sobre o crime via disque-denúncia. O menor foi encaminhado para o CASE. O motivo da discussão ainda será investigado.”

terça-feira, 5 de março de 2013

Olhares


Olhando para a ampulheta,
 me peguei pensando não em você, 
mas no momento exato em que nos conhecemos. 
E pra falar a verdade, eu não lembro. 
Não lembro quando e como foi a primeira vez que nos vimos. 
Que risível. Eu que julgo tanta sapiência, não soube isso.
Que irônico.
Mais irônico e risível é dizer que não estava pensando em você, já que o não pensar é também pensar.
Mas não era tempo de rir. Era o momento de me focar. 
Quando foi que nos vimos pela primeira vez?
Não falo do dia que nos conhecemos, disso lembro, foi numa tarde comum, táxi comum, amigos em comum.
Falo do dia que nos vimos. Que nos olhamos. Que nos percebemos.
Falo dessa visão. A visão que abre precedentes, 
que desconserta, 
que revela desejos,  
que olfegante munda ideologias, 
paralisa, 
ensina, 
troca, 
trova, 
tolda, 
tosa, 
tocaia, 
toca.

Isso me angustia.
Não lembro! 
  Não
  Não
Não lembrei!
Isso me angustia.

Não vou pensar mais nisso. 
Não por hora. 
Do que adianta saber?
Eu vi você olhando para o seu novo amor.


Vanessa, 05/03/2013




domingo, 19 de dezembro de 2010

Férias!

Quero mais é me divertir nas areias dos teus olhos ressecados;
Quero me embriagar de alegria;
Quero sentir o aroma suave do meu cobertor;
Quero me embalar nas canções dantes não ouvidas;
Quero voar nas asas deste novo amor
E me saborear nas páginas de um tal Bolaño,
Porque a desejada de muitos chegou!

domingo, 24 de outubro de 2010

Feirante - (João Alexandre): Uma análise.





Feirante

João Alexandre

Arruma a cangalha na cacunda que a rapadura é doce mas não é mole não
E genipapo no balaio pesa,
Anda, aperta o passo pra chegar ligeiro,
Farinha boa se molhar não presta
Olha lá na curva a chuva no lagedo

Quem foi que te disse que a vida é um mar de rosas?
Rosas têm espinhos, e pedras no caminho
Daqui até a cidade é pra mais de tantas léguas
Firma o passo, segue em frente,
Que essa luta não tem trégua
Fica na beira da estrada quem o fardo não carrega
A granel felicidade não custeia o lavrador
Vamos embora que a jornada é muito longa
E não há mais tempo de chorar por mais ninguém
Lá na feira a gente compra, a gente vende,
A gente pede, até barganha aquilo que comprou
E te prometo que depois no fim de tudo na Quitanda da Esperança
Eu te compro um sonho de açucar mascavo embrulhado num papel de seda azul

Pra te consolar

Essa música do poeta João Alexandre é linda. numa análise superficial, logo percebemos que ela se trata de um compêndio de diversos ditados populares conhecidos de Norte a Sul do nosso Brasil. Ao retratar o cotidiano de uma feira, algo bem típico de nossa cultura, na qual as imagens vão se formando ao desenrolar de nossa leitura, ele, João Alexandre, nos conta uma história, que vai muito mais além.
O que é essa "feira" senão nossa vida?
Nossa vida é assim. Numa hora, rosas, Noutra espinhos e pedras. Mas é atraves desses percaussos que contruimos nossa identidade. Alguns, que pena, no meio do caminho estacionam e não acham mais forças para continuar. São consumidos por algumas barganhas.
Porém olham para trás e vê todo caminho já percorrido, e ganham forças para continuar , seguem em frente, sabendo que a jornada é longa, mas dá para suportar. E é para esses que suportam, que vão até o fim, que aparecem uma "quitanda" onde vende um sonho, não um sonho qualquer, mas um sonho de açúcar mascavo.
Quem sabe toda essa jornada entre rosas e espinhos seja o caminho, para alcançar a coroa da vida, e que essa coroa seja esse "sonho embrulhado no papel de seda azul" e a "quitanda da esperança" seja o céu onde um dia nos encontraremos.
Então mantém teu passo firme, segue em frente , por que a "quitanda" pode está bem ali...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

RECORTES

Ultimamente me sinto assim. Não caibo dentro de mim.
Certo que nunca consegui me entregar a desorienteção. Mas agora está demais.
Culpo aquele sorriso no canto dos lábios dos amantes.
Culpo você. Sim você que tenta me culpar.
Que facilidade é essa?
E a mim que dificuldade é essa?
Não sei o que pensar.
Tá tudo desorientado.
Por quê você me deixa e some?
A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca.
Não tente me provocar.
Não tente me encurralar, por que eu grito.
Não dá mais. Me permita ir. Voar... Voar... Voar na retidão mais reta da minha reta.
O meu peito pesa como um chumbo, dilacerando a garganta.
Minha garganta estranha, quando não te vejo me vem um desejo louco de gritar.
Porque há o direito ao grito.
Então eu grito:
Somos serra e litoral. Nosso final é simples: tchau!

sábado, 25 de setembro de 2010

Amici, ad qui venisti?

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Na trajetória de minha vida, muitas pessoas conheci. Algumas se foram. Outras foram, mas permaneceram. Outras permanecem e já se vão e outras ficarão, quando eu me for.
De todas tenho recordações mil.
Lembro de tudo que me ensinaram. Bem, tudo o que quis aprender!
Lembro dos que asseguram comigo: Deus existe, sim! Lembro dos que se opõem.
Lembro dos passeios pela tarde.
Lembro das risadas inconsequentes, das brigas, debates calorosos, das olhadelas intimidadoras e das que anunciavam perigo!
Lembro dos papos cabeças, literários, insubordinados, metalinguísticos, futuristas.
Lembro dos choros, frustrações, saudades, melancolia, agonia, tristezas!
Não esqueço as carícias, os abraços, os beijos.
Não esqueço dos beliscões, das vezes que puxei o cabelo de seu antebraço.
E quando aprendi que política é muito mais que ideologia, que Saramago não é só ateu, que dois e dois pode não ser quatro e nem vinte dois, que cada um vai ser cobrado de acordo com a sua luz, e que o mundo, segundo os Incas vai acabar em 2012. 
E das vezes que me trouxeram problemas de lógicas para que resolvesse, das explicações do que seria RPG e da tentativa de me fazer decorar uma relação de marcas famosas. Não me esquecerei jamais.
E o que falar então dos que me ensinaram a demonstrar mais amor, mais carinho, emoção, sensibilidade, (e parecer uma menina).
E os que me disseram: Vanessa, você não dá pra ser  boazinha o tempo todo.
Eu sei que você não é uma pessoa excludente, mas seja mais firme. Nada dessa cara de choro. 
Lembro aos quais disse: pare de fumar, beber, cuidado! Não faça o que eu não faria!
E dos que responderam: tá bom, segunda eu viro monge.
Me lembro das caronas com emoção e das sem também. 
Das viagens, o que falar então?
Dos encontros?
Do cursinho, das risadas no ônibus?
E logo lembro-me das frases de efeito e apelidos carinhosos: Boa noite, Maria Isabel; tô me contorcendo de fome; pode me chamar de loca, de obcecada, mas eu só descanso quando achar Lindalva; dá a egípcia; dar a elza; nharã, senta lá Cláudia; a vítima sou eu; eita, eu queria; meu preferido; Nessinha, Nessa, Banessita, Banessa, Smilinguido, Juvarái, Tinha, Nega jú, Nega, Maga.
E ao descrever toda relação, uma coisa me vem à cabeça: eu sou  pedaços de tudo isso. Todas essa referências modelaram um ser que hoje escreve isto. 
Cada item desse é uma parte do todo em que me transformo todos os dias. 

sábado, 11 de setembro de 2010

Caim: Saramago com muita coisa para pensar...


Caim, livro escrito por José Saramago, escritor português que acaba de ir para ao lado sobrenatural da vida, é um passeio pelo velho testamento do personagem, de mesmo nome do livro.
Meu olhar crítico não pode negar a grandiosidade do escritor, que com maestria conduziu a pena, e então, a obra se fez. Cada capítulo do livro é, distintamente, fascinante. Escrito num estilo próprio, Caim é uma proposta de mostrar acontecimentos do Velho Testamento sob a ótica de seu personagem principal.
Repleto de diálogos, insultos, de Caim com o Senhor, Saramago passa o livro todo tentando provar, com cada situação vivenciada por Caim, que Deus é, na verdade, maligno, mesquinho, egoísta e que as pessoas que o amam, estão apenas perdendo seu tempo, pois ele não retribui.
O livro possui um tipo de descrição que leva o leitor a uma visualização minuciosa dos acontecimentos vivenciados por Caim. Assim, e por isso, o livro de narrativa curta, é considerado uma excelente obra pela crítica.
Agora, numa outra perspectiva, a de cristã que sou, o livro é um choque. Ler, algo como: "O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abraão tivesse mandado o senhor à merda (…)" é para deixar qualquer cristão com uma raivinha no coraçãozinho. Não nego que, mesmo me encantando, o livro também me causou repúdio; mesmo me dixando irritada algumas vezes, não conseguia parar de ler. Queria saber o final.
O livro, digo e repito, não conseguiu abalar minha fé e esperança de um dia ver Jesus/Deus como ele é. E para mim o livro não passa apenas de uma ficção refinada e maravilhosamente escrita.
Então fica a dica: indico a você, caro amigo leitor, leia-o. Tanto para ficar à par de mais uma obra literária muito boa, quanto para teres uma impressão própria do que foi dito aqui.